Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti
No mundo há muitas armadilhas e o que é armadilha pode ser refúgio e o que é refúgio pode ser armadilha.
(Ferreira Gular)
O imperativo do agir é o corpo. Devemos fundar uma ética baseada nas sensações. Não há ação sem substrato físico, o que significa que nenhum comportamento é possível sem que estejamos encarnados. Fora do corpo não há vida. E fora da vida não há sensações.
Todas as virtudes são virtudes do corpo. É o corpo quem nos conduz às verdades sobre a ética. Nossos órgãos sensoriais são capazes de traduzir as ações que nos afetam em juízos de valor. É com base no que sentimos que podemos mensurar se uma coisa é boa ou má, justa ou injusta. Através das categorias sensoriais de prazer e dor somos capazes de construir uma gramática das ações humanas, um repertório de comportamentos adequados ou inadequados à nossa própria felicidade.
E nosso corpo não nos informa como algo externo a nós, como uma voz que se escuta ao longe: somos nós mesmos que falamos, somos corpo e nada mais. Perceber o corpo é conectar-se consigo mesmo.
De modo semelhante, nosso corpo informa-nos imediatamente sobre a adequação ou não de nosso comportamento e de nossa postura diante do mundo. No corpo do outro vejo o reflexo de minhas realizações sobre o mundo: no prazer do outro e em sua dor também me conduzo.
O corpo é o baluarte da ética. Estar eticamente seguro é estar sensível ao corpo, perceber o corpo como fim e meio para a realização de uma boa vida, de uma vida feliza.
O corpo não nos engana na tarefa da felicidade.
Miniensaios de Filosofia, volume: Ética, Medo & Esperança, capítulo IV, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]