Por Anderson Borges Costa
Você costuma apostar na loteria ou na Mega-Sena? Já comprou e ganhou alguma rifa? Considera-se uma pessoa de sorte? É sobre a sorte ou sobre a falta de sorte que gira o filme O Céu de Suely, considerado um dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema. O filme é muito bom, mas a vida da protagonista é uma fortuna que poucos gostariam de ter.
A palavra fortuna tem vários significados. Pode ser uma grande quantia de dinheiro; pode ser boa sorte; pode ser desgraça, uma adversidade; pode ser o destino. O destino de Suely é a fortuna que essa moça de 21 anos procura dar à sua vida pegando um ônibus na rodoviária da pequena cidade de Iguatu, no Ceará, para o destino mais longe dali — Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ir para longe, se despedir da família e da vida desafortunada em Iguatu é o destino que Suely traça para si, pois a fortuna de ter nascido pobre, ter se apaixonado, engravidado e sido abandonada com o bebê pelo pai da criança é uma fortuna desafortunada.
Com uma criança pequena para criar, sem um lar, vivendo de favor na casa da avó e na de uma amiga prostituta, ganhando gorjetas lavando carros no posto de gasolina, Suely, cujo nome real é Hermila, decide que se chamará Suely. E é como Suely que Hermila (interpretada com competência por Hermila Guedes, que participa de quase todas as cenas do filme) arrisca receber uma fortuna mais afortunada rifando o próprio corpo entre os homens da cidade de Iguatu. Aposta na sorte ao vender uma rifa cujo prêmio é, segundo Suely, “Uma noite no Paraíso”.
Com destino incerto, sem destino, com fortuna sem sorte, com o azar da fortuna sem dinheiro, Hermila arrisca o destino em um ônibus cuja fortuna é uma estrada para o desconhecido. Um filme no qual vale a pena apostar um hora e meia da sua fortuna. Segure-se no sofá, pois cinema é movimento.
O Céu de Suely (Brasil/Alemanha, 2006)
Direção: Karim Aïnouz
Elenco: Hermila Guedes, Maria Menezes, João Miguel, Georgina Castro
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Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.