Por Anderson Borges Costa
Enquanto você lê tranquilamente este texto, muitas pessoas no mundo não têm a tranquilidade de sentar para ler. O mundo, para elas, se resume a fugir de bombas e tiros, pois o cotidiano é a guerra. Um dos piores lugares no mundo para viver desde a última década é a Síria. Desde 2011 o país vive um conflito enorme. Motivados pela Primavera Árabe, os sírios protestaram contra o governo do ditador Bashar al-Assad. O resultado foi uma longa e violenta guerra civil, que forçou milhões de sírios a fugirem, buscando refúgio em outros países. O drama da batalha que os refugiados enfrentam é o tema do belo filme As Nadadoras, em cartaz na Netflix.
O Brasil sediou pela primeira e única vez uma Olimpíada. Em 2016, os Jogos Olímpicos do Rio ofereceram ao mundo momentos de superação e competição em alto nível. Mas o mais emocionante não foi a disputa por uma medalha, e sim a classificação da nadadora Yusra Mardini para os 100 metros borboleta. Este foi o momento máximo de Yusra, uma atleta que um ano antes da Olimpíada, após ver sua casa ser destruída por um bombardeio, escolheu abandonar a mãe, o pai, uma irmã e o país em guerra civil para fugir com outra irmã para o Líbano e para a Turquia. De lá, entrou em um bote, com quase 20 pessoas, que, superlotado, começou a afundar. Para que o bote não virasse, Yusra e sua irmã, nadadoras treinadas pelo pai na Síria, se jogam ao mar, nadam e empurram por três horas o bote até a Grécia. Se terminasse aqui, essa história já seria digna de um filme. Esse foi apenas o primeiro de vários atos de heroísmo que Yusra e sua irmã Sarah Mardini realizaram. Sobreviver à fuga de um país em guerra é improvável. Chegar até a Turquia é improvável. Passar por guardas costeiras e pela polícia da Macedônia, Sérvia, Hungria e Áustria, até conseguirem se estabelecer na Alemanha, é improvável. Como refugiada, obter índice para disputar a Olimpíada do Rio é improvável. Classificar-se em primeiro lugar em sua bateria para a final da prova olímpica é improvável. As Nadadoras é um filme sobre a improvável vitória de vidas destinadas a serem derrotadas. É muito provável que você goste desse filme. Segure-se no sofá, pois cinema é movimento.
As Nadadoras (Estados Unidos/Reino Unido, 2022)
Direção: Sally El Hosaini
Elenco: Manal Issa, Nathalie Issa e Matthias Schweighöfer
As Nadadoras | Teaser oficial | Netflix
Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.
Fotos: Divulgação