Por Anderson Borges Costa
 
O primeiro beijo a gente nunca esquece. O primeiro amor. O primeiro dia de aula. O primeiro emprego. Primeiro, as damas. No jogo de damas, a política é um tabuleiro que sustenta peças que se comem e se destroem. O autor paranaense Miguel Sanches Neto escreveu um romance que coloca a mulher em lugares que ela não costuma frequentar. Como a política. É sobre amor, poder, feminismo e política o bom romance A primeira mulher.

Este livro de Miguel Sanches Neto é um romance policial. Aqui, o professor universitário Carlos Eduardo é um homem de 40 anos, solteiro, que se envolve casualmente com suas alunas de literatura, todas com vinte e poucos anos. Não quis ter filhos. Tem uma relação desigual com o tempo, vive perdendo relógios. O tempo passa, e Carlos Eduardo segue sozinho. A solidão é o relógio de suas escolhas independentes.

Com uma autonomia financeira sem luxos, o professor, após longos anos, reencontra Solange, com quem se relacionou seriamente no passado. Ela se casou e se separou. Teve um filho, o garoto Alexandre, que está desaparecido. O desaparecimento do filho fez com que Solange militasse pela causa das crianças que somem. Vira uma personagem política e é candidata à prefeita da cidade; a primeira mulher.

O crime do desaparecimento de Alexandre repercute; é a grande bandeira de Solange, que, também isolada, procura Carlos Eduardo, para que ele a ajude na investigação. Ele, mesmo sem querer, mesmo sem tempo, passa a ser um investigador improvável. Investiga o crime e investiga seus próprios atos, tentando acertar os ponteiros do relógio de sua vida de desacertos. O tempo é um instante que o protagonista não consegue segurar entre os dedos.

Você, leitor, será o primeiro a dar corda no relógio de Carlos Eduardo? Quem você acha que é o primeiro suspeito? Boas leituras!

A primeira mulher, de Miguel Sanches Neto 
Editora Record

 

 

 


Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.


Foto capa: Ali Hajian/Unsplash
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