Por Ronaldo Campos
Falar que Pelé é o Rei do Futebol, que se consagrou campeão em três Copas do Mundo — 1958, 1962 e 1970 —, que é mundialmente conhecido, que marcou mais de 1.200 gols, que jogava com a camisa número 10 e que começou sua carreira no Santos não é novidade para ninguém. Talvez a novidade esteja em tentar entender a magia de Pelé dentro e fora do campo. Parece que havia um acordo, um entendimento entre ele e a bola para tocá-lo somente nas partes do corpo permitidas pelas normas do futebol.
Outro grande jogador que também se eternizou pela sua magia valeu-se de uma certa criatividade para se adaptar às regras do jogo. Na vitória por 2 a 1 sobre a Inglaterra, pelas quartas de final da Copa do Mundo de 1986, Maradona fez um gol com a mão que ficou conhecido como a “mão de Deus”. No livro Tocado por Deus: como nós vencemos a Copa do Mundo de 86 do México, ele conta: “Na coletiva de imprensa, eu não sabia como reagir. A princípio, eu continuei falando que tinha cabeceado. Não sei, eu temia que, como ainda estava no estádio, eles poderiam anular o gol. Como eu poderia saber? Mas depois, eu disse para alguém: foi a cabeça do Maradona e a mão de Deus”.
Ao contrário do nosso hermano, Pelé não teve nenhum lance polêmico durante sua carreira futebolística. Ele era extraordinário! Tinha habilidade para chutar com os dois pés, corria 100 metros em 11 segundos — quase um Usain Bolt, que detém o recorde de 9,8 segundos. A diferença entre eles é que Pelé corria chutando uma bola. Ele foi um dos criadores do “chute de bicicleta” e foi eleito o Atleta do Século em 1980.
Nelson Rodrigues chamou-o de o Rei do Futebol em um artigo publicado na Manchete Esportiva, em 8 de março de 1958. Ele dizia que pendiam mantos reais do peito de Pelé e que em campo ele transbordava um ar de realeza da cabeça aos pés. Não levou muito tempo para os franceses conhecerem o Rei de Nelson Rodrigues e espalhar pelos quatro cantos do mundo o surgimento do “novo monarca”.
Como era impossível quebrar a magia do Rei em campo, algumas pessoas tentaram quebrá-la fora dele. Pelé foi acusado de não se engajar na luta antirracista. Porém, não deixou de ser admirado pelos líderes mundiais Nelson Mandela e Desmond Tutu. Também foi criticado por demorar para reconhecer, após o resultado do exame de DNA, a paternidade de sua filha Sandra Regina. Não há dúvida da importância dessas questões, porém nenhuma delas impediu que ele conhecesse, e fosse abençoado, pelos Papas Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.
Sua magia transcendia a todos e a tudo dentro e fora do campo. Foi recebido pelos presidentes norte-americanos Richard Nixon, Gerald Ford, Jimmy Carter, Ronald Regan — este o reverenciou dizendo: “Prazer, sou Ronald Regan, presidente dos Estados Unidos. Mas você não precisa ser apresentado, porque Pelé todo mundo sabe quem é” —, Bill Clinton e Barack Obama. Também esteve, em 2017, com o adversário geopolítico dos Estados Unidos, Vladimir Putin. A lista de famosos não para por aqui: a rainha Elizabeth II, Brigitte Bardot, Elton John, Frank Sinatra, Rod Stewart, Jacqueline Kennedy e muitas outras celebridades. Você conhece alguém mais popular que o Pelé?
Pelé emanava felicidade e encantava por sua simplicidade. Todos queriam tocá-lo, beijá-lo, abraçá-lo, tirar uma foto, uma selfie com o Rei. Precisamos reconhecer a magia de Pelé e agradecer por tudo que ele fez em campo e fora dele. Por ter mostrado o lado bonito do Brasil para o mundo, pela inspiração que deu a milhões de jovens que sonharam, e ainda sonham, em ser um jogador como ele.
Pelé, muito obrigado pelo The beautiful game!